Diocese do Funchal - Ano Pastoral 2020 / 2021 - "A Eucaristia constrói-nos no caminho da Fé: Cristo Salva-te. Maria pôs-se a caminho ..."

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

HOMILIA DE D. ANTÓNIO CARRILHO, BISPO DO FUNCHAL, na Solenidade do aniversário da Dedicação da Catedral - Sé do Funchal, 18 de Outubro de 2012

O dinamismo da fé, na alegria de anunciar Jesus Cristo!
Em plena caminhada para as celebrações jubilares da criação da Diocese do Funchal, celebramos, hoje, os 495 anos da Dedicação desta vetusta Catedral, mandada construir por D. Manuel I. Igreja-Mãe da Diocese, à qual estão unidas todas as paróquias e comunidades, é memorial das maravilhas de Deus e sinal visível de comunhão e unidade, ao longo de cinco séculos de vida cristã na Madeira e Porto Santo. E nós, pedras vivas deste templo espiritual, cantamos com alegria a nossa gratidão ao Senhor: “Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor Deus Omnipotente” (Ap 15,3)!
Esta bela Catedral, cujas pedras seculares nos falam do encontro com Deus e com os homens, remonta, pois, ao tempo dos descobrimentos e foi dedicada a Nossa Senhora da Assunção. Toda ela evoca, não só a expansão territorial portuguesa e o encontro de culturas, mas, sobretudo, o ardor e o dinamismo missionário de um povo, que encarnando os valores do Evangelho, sentiu a urgência de comunicar a sua fé em Cristo aos outros povos.
Abertura diocesana do Ano da Fé
Em comunhão com o Santo Padre, tenho a alegria de anunciar à comunidade diocesana da Madeira e Porto Santo que, nesta mesma celebração, se procede, oficialmente, na nossa Diocese, à abertura do Ano da Fé, já efetuada solenemente em Roma, no âmbito da Igreja Universal, no passado dia 11 deste mês...
O Ano da Fé, por iniciativa e vontade expressa do Papa Bento XVI, pretende “dar um impulso renovado à missão de toda a Igreja”, evocando os 50 anos do início do Concílio Vaticano II e os 20 anos da promulgação do Catecismo da Igreja Católica; entretanto decorre, em Roma, o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização. A Igreja, iluminada pelo Espírito Santo, é reenviada a evangelizar e a viver um renovado dinamismo missionário.
Segundo a mensagem Conciliar, à Igreja compete ser presença e proposta do Evangelho em todos os espaços da vida humana, sabendo estar perto, em especial de quem vive situações de “deserto”, de vazio existencial, falta de horizontes e sentido para a vida. Compete-lhe estar perto e abrir caminhos “para conduzir os homens para fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude” (Bento XVI, A Porta da Fé, 2).
Neste ano especial de graça, todos somos convidados a aprofundar a fé, que recebemos no Batismo, e a viver em consonância e coerência com esta mesma fé. Todos somos chamados à conversão e à santidade, à redescoberta de Cristo Ressuscitado, que caminha connosco e reparte o Pão da Palavra e da Eucaristia; chamados a ser Suas testemunhas credíveis e alegres.
Como nos recorda Bento XVI, a fé vivida abre o coração à Graça de Deus que liberta do pessimismo, mantendo viva a esperança. Hoje, mais do que nunca, evangelizar significa testemunhar uma vida nova, transformada por Deus, sinal luminoso do verdadeiro caminho e sentido da vida (cf. Homilia de Bento XVI, na abertura do Ano da Fé, Outubro 2012).
Templos do Deus vivo
Os textos litúrgicos desta Eucaristia apresentam-nos a fecundidade e beleza do mistério da Igreja, e iluminam os compromissos da fé dos cristãos, verdadeiros templos do Deus vivo, na sua vivência pessoal, social e eclesial.
O texto do Profeta Ezequiel oferece-nos a imagem das águas abundantes que saíam do templo de Deus. Elas simbolizam o Espírito Santo, na abundância dos seus dons, que seria derramado nos nossos corações, nos tempos messiânicos (cf. Rom 5,5). Cristo é o novo templo, a pedra angular, rejeitada pelos homens: n’Ele e por Ele podemos adorar o Pai em Espírito e Verdade e receber a Vida em abundância, que jorra para a vida eterna (cf. Jo 10,10).
A segunda leitura recorda-nos a grandeza e a dignidade dos cristãos: “somos geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus, para anunciar os louvores d’Aquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável” (1Pedro 2,9). Daí a urgência profética de todo o batizado viver e testemunhar alegremente a sua fé em Cristo, Filho de Deus vivo, e de anunciar o Evangelho à nossa sociedade, tão carecida da mensagem e dos valores da Boa Nova de Jesus, em tantos aspetos e dimensões da vida social, sem deixarmos de reconhecer nela os elementos positivos, as sementes do Verbo de Deus, que também a caracterizam.
Confissão de fé de Pedro
A narrativa do evangelho de S. Mateus situa-se em Cesareia de Filipe, quando Jesus vai a caminho de Jerusalém. Face à pergunta que Ele dirige aos Apóstolos, Pedro faz a sua confissão de fé messiânica em nome do grupo e revela a verdadeira identidade de Jesus. O Mestre responde: “Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus” (Mt 16,17). Só o Pai conhece verdadeiramente o Filho. É no Pai que tem origem a Luz e inspiração para a compreensão plena de Jesus, o Filho muito Amado.
Com a força do Espírito de Jesus Ressuscitado, a Igreja continua a sua peregrinação na terra até à Jerusalém celeste. Embora tantas vezes perseguida, incompreendida e ferida pelos nossos pecados, é a Igreja-Mãe que nos acolhe em nome de Jesus e se inclina sobre os sofrimentos da Humanidade, para lhe apontar os caminhos de Cristo Redentor.
Cristo é a porta da nossa Fé
A fé é essencialmente um encontro pessoal e íntimo com Jesus Cristo, Boa Nova de Deus para nós, um dom do Pai a viver na comunhão com a Igreja e a testemunhar na sociedade. Se a pós-modernidade se apresenta imersa numa crise global a nível filosófico, económico, cultural e político, é porque Deus, em muitos meios, se tornou o grande ausente.
Na sua última visita à Alemanha, o Papa interrogava-se: “porventura, será preciso ceder à pressão da secularização, tornar-se moderno através de uma mitigação da fé?” Logo respondendo: “naturalmente a fé deve ser repensada e sobretudo vivida, hoje, de um modo novo (…) Crer de modo mais profundo e vivo”, como convicção pessoal, sabendo cada um dar razões da própria fé e reconhecendo que “não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade” (PF,12).
Uma fé esclarecida, alimentada com a Palavra e os sacramentos, especialmente pela Eucaristia, mantém-se forte e viva, é celebrada e testemunhada nas diversas circunstâncias da vida: na alegria e no sofrimento, na saúde e na doença, na convivência e na solidão; enfim, ilumina, dá sentido e transforma toda a nossa vida. É a luz da fé que alimenta a esperança e nos dá coragem, força para evangelizar e testemunhar o mistério do amor de Deus na nossa história.
A alegria de anunciar Jesus
“A Porta da Fé, que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós” (PF,1). Este mistério de comunhão, de vida e de amor deve ser cultivado e vivido pelos cristãos, confirmado pelo testemunho da caridade. A fé sem obras é morta, diz-nos S. Tiago.
“Ai de mim, se não evangelizar” é o grito da consciência missionária de S. Paulo, há cerca de 2000 anos, que ressoa também em nós, face aos desafios e dificuldades do mundo atual; não podemos, porém, descurar os novos métodos pedagógicos e as novas formas de expressar e transmitir a fé em Cristo, fonte de Vida. A criatividade pastoral é fundamental para corresponder às necessidades e expetativas da nossa sociedade, com os seus problemas, mas sem esquecer que os projetos pastorais só terão eficácia na redescoberta da beleza da fé e do encontro pessoal com Cristo, na comunhão da Igreja.
Celebra a Igreja universal, neste dia 18 de Outubro, a festa do evangelista S. Lucas. O Apóstolo, com grande formação cultural helénica, além de ser médico, revela-se um insigne historiador e escritor, que só depois de investigar todos os factos cuidadosamente os põe por escrito, manifestando nos seus textos grande profundidade e riqueza extraordinária sobre o mistério de Cristo e da Igreja. Ele constitui para nós um exemplo e um estímulo, a quem podemos confiar todos os nossos esforços para sermos capazes de fundamentar e dar razões da nossa fé e da nossa esperança.
Fazer brilhar a Palavra da Verdade
A insistência que pode fazer-se nos nossos planos pastorais, quanto à necessidade de conhecimento dos conteúdos doutrinais ou verdades fundamentais da fé cristã não poderá levar-nos a esquecer ou menosprezar a dimensão social da fé, com as suas consequências no compromisso efetivo de todos os cristãos, consoante a sua vocação e modo de vida. Ser “sal da terra” e “luz do mundo”, como disse Jesus, implica uma presença ativa e interventiva, no domínio das respetivas responsabilidades educativas e sociais.
“Chamados a fazer brilhar a Palavra da Verdade” é o título da mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Missões, que se realiza no próximo domingo. Nela se insiste em que o Evangelho deve responder à problemática humana concreta: “Ler a história para vislumbrarmos os problemas, aspirações e esperanças da humanidade que Cristo deve sanar, purificar e colmatar com a Sua presença” (…) “De facto, a Sua mensagem é sempre atual, penetra no próprio coração da história e é capaz de dar resposta às inquietações mais profundas de cada homem”.
Nesta perspetiva, não posso deixar de sublinhar a preocupação da Igreja Diocesana –Bispo, Sacerdotes, Membros de Institutos de Vida Consagrada e Leigos, perante a grave crise atual, que todos parecem reconhecer, sem que se encontrem, no entanto, respostas e soluções tão adequadas e urgentes quanto desejamos, para todo o nosso País e para a Europa.
Como já disse noutras ocasiões, a hora presente exige muita verdade e transparência, justiça e equidade, solidariedade e um compromisso sempre maior na promoção e defesa do bem comum, em todos os níveis e em todas as instâncias.
Aos governantes pede-se que não se exijam sacrifícios para além dos estritamente necessários e que se tratem com sentido de igualdade, respeito e equidade, todos os cidadãos. Atenção particular, sim, aos mais pobres e carenciados, num profundo respeito pela dignidade da pessoa humana e contando com a colaboração responsável de todos.
Conscientes dos seus deveres para com o próximo e a sociedade em geral, os católicos madeirenses saberão estar vigilantes e atentos às necessidades de quem precisa de ajuda, nas circunstâncias concretas que afetam as nossas famílias, de modo especial as que se sentem mais atingidas nos seus direitos fundamentais pelo desemprego, problemas de habitação e falta de meios para atender, de forma conveniente, à educação e à saúde dos seus membros.
Compromisso apostólico renovado
Marcando, também, esta Eucaristia a abertura oficial e conjunta do ano catequético na Diocese e estando a decorrer o mês missionário, faremos antes da bênção final uma breve cerimónia de envio. Peço, desde já, aos agentes pastorais, catequistas, pais, professores e a todos os cristãos, em geral, um compromisso apostólico renovado. É que todos somos convocados e enviados a evangelizar, a transmitir, com entusiasmo e alegria, o tesouro da fé cristã às famílias e às comunidades, com o testemunho de uma vida alegre e feliz e o suave odor da caridade, que encontra nos mais pobres o rosto de Cristo Irmão.
Respondendo ao pedido do Papa Bento XVI, também eu convido a comunidade eclesial a rezar o Credo, como oração diária, em particular ou em família, como faziam os primeiros cristãos. “É que este (o credo) servia-lhes de oração diária, para não esquecerem o compromisso assumido no Batismo” (PF, 9).
“Crer, viver e testemunhar”, escreve Bruno Forte, Bispo teólogo, é o que nos é pedido, de modo particular, neste Ano. Precisamos, por isso, de conhecer os conteúdos da fé e os valores por ela inspirados. O Papa Bento XVI tem recomendado, muito vivamente, a leitura ou releitura dos Documentos do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica, publicado há vinte anos, como síntese de fé e da mensagem conciliar.
Mais recentemente e pensando, em especial, numa linguagem mais adequada e acessível às novas gerações, a Igreja publicou uma nova síntese, o “Youcat”, de grande utilidade para a leitura individual e trabalhos de formação em grupo. Saibamos, pois, aproveitar estes meios para crescermos na fé e no testemunho vivo do Ressuscitado (cf PF, 15).
À Mãe da Igreja
Irmãos, unidos à Mãe da Igreja, Senhora da Assunção, padroeira da Catedral, vivamos o dinamismo da fé e sejamos testemunhas autênticas da presença do Espírito de Deus, neste mundo, que deseja encontrar na Igreja a beleza do Evangelho e a resposta às suas justas inquietações e esperanças.
Maria, Senhora da Assunção, rogai por nós!
Funchal, 18 de Outubro de 2012
† António Carrilho, Bispo do Funchal

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