Diocese do Funchal - Ano Pastoral 2020 / 2021 - "A Eucaristia constrói-nos no caminho da Fé: Cristo Salva-te. Maria pôs-se a caminho ..."

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Homilia de D. António Carrilho, Bispo do Funchal, na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Eucaristia, dom do Pai para a vida do mundo!

Este ano, a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo celebra-se com o tema “Eucaristia, dom do Pai para a vida do mundo”. Na verdade, a Eucaristia, dom generoso de Cristo, Filho de Deus, é realmente um dom do Pai, porque é o Pai, como nos recorda S. João, que nos dá o verdadeiro Pão do Céu (cf. Jo 6,32).
Integrada nas celebrações Jubilares dos 500 Anos da Criação da Diocese do Funchal, ao fazermos memória da sua vida espiritual e missionária, somos conduzidos ao Coração Eucarístico de Cristo. É a Eucaristia que faz a Igreja e a Igreja que faz a Eucaristia. Em comunhão eclesial, celebramos, louvamos e adoramos o Sacramento do Altar, que prolonga e projecta, ao longo dos séculos, o mistério da Encarnação e Redenção do Verbo de Deus.
A Eucaristia, o maior tesouro da Igreja
A palavra, que escutámos no Livro do Deuteronómio (8,2-3.14-16), convida-nos a ler a própria vida, no hoje da história, em chave teológica, e a celebrar, todos os dias, o memorial das maravilhas do Senhor. Assim disse Moisés ao Povo: “Hás-de recordar todo esse caminho que o Senhor, teu Deus, te fez percorrer, durante quarenta anos no deserto…” (Deut 8,2).
Hoje, como outrora, a surpresa e a gratuidade do Deus da Aliança estão sempre presentes em todas as circunstâncias e situações da nossa vida concreta. Deus não falta: Ele está presente na travessia dos desertos da nossa história, nos sofrimentos e nas carências, bem como na prosperidade, com a abundância das Suas bênçãos e dons, apontando sempre para a esperança de um futuro melhor. “Foi Ele quem, da rocha dura, fez nascer água para ti e no deserto te deu a comer o maná…” (v.16). Por isso, também nós podemos cantar a bondade e os louvores do Senhor, repetindo com o salmista: “Jerusalém louva o teu Senhor” (Sl 147)...
A Eucaristia, assim prefigurada na história do Povo Eleito, ao chegar a plenitude dos tempos torna-se realidade, acontece com a Encarnação do Verbo e a Sua entrega ao Pai no Mistério da Cruz, e prolonga-se no tempo da Igreja como Sacramento do Amor. Jesus Cristo é o novo Maná, que sacia todas as fomes e sedes, as aspirações mais íntimas e profundas, os anseios de justiça, paz, amor e liberdade da família humana de todos os tempos. Como diz o Concílio Vaticano II, “na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa” (PO,5).
Viver em comunhão fraterna
Na segunda leitura (1Cor 10,16-17), S. Paulo exorta a comunidade de Corinto a viver na unidade e na comunhão fraterna. Comungar o Corpo de Cristo implica estar em comunhão com os irmãos, viver o mistério do Seu Corpo místico, que é a Igreja. “Visto que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do mesmo pão” (v.17).
O relato evangélico de S. João (6, 51-58), retirado do discurso de Jesus sobre o Pão da Vida, convida-nos a comer a Carne e a beber o Sangue de Cristo, para termos n’Ele a Vida em abundância. Estas surpreendentes palavras de Jesus foram contestadas, imediatamente, pelos Judeus: “Como pode Ele dar-nos a comer a Sua Carne?” (Jo 6, 52). Mas Jesus conhece e afirma a necessidade que os Seus discípulos têm de comer a Sua carne e beber o Seu sangue, para permanecerem unidos a Ele, em projecto de eternidade: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele” (v. 56).
A Eucaristia é, pois, sacramento de comunhão com Cristo, mas é também factor e expressão de comunhão fraterna. A Eucaristia é o Pão da Vida, o Sol da Esperança, que ilumina o coração da Humanidade, ferida pelo mal, mas sedenta de Redenção e de Paz. É caudal de Graça e Alegria, para todos os que acreditam e lutam pela construção de um mundo melhor e mais solidário. A Eucaristia é mistério de fé e como nos diz o grande teólogo Timothy Radcliffe,op., “acreditar é ver com olhos de amor”.
A Eucaristia, fonte de amor solidário
É, pois, a Eucaristia que nos relança no dinamismo da Caridade Divina e se traduz em gestos, sempre renovados e inovadores, de solidariedade, unidade e comunhão fraterna. É esta proximidade de Deus, que Se faz Pão vivo descido do céu, que atrai os corações simples e abertos, os pobres e os mais frágeis, aqueles que, afinal, sentem necessidade de perdão, de reconciliação e de graça, sentem a necessidade da Salvação.
Perante os desafios do mundo actual, com uma profunda e grave crise de valores, que todos reconhecemos, onde a solidão, a tristeza e a falta de sentido para a vida marcam e caracterizam muitos dos nossos contemporâneos, a Eucaristia ilumina a história de cada homem e de cada mulher. Como disse João Paulo II: “A Eucaristia é uma grande escola de paz, onde se formam homens e mulheres que, a vários níveis de responsabilidade na vida social, cultural e política, são instrumentos de paz, de diálogo e de comunhão” (Mane nobiscum Domine, 27). A Eucaristia implica sempre um compromisso social de fraternidade, porque é exigência de comunhão com os outros.
Diocese, Igreja em missão
Dedicamos os próximos três anos de preparação do grande Jubileu da Criação da Diocese do Funchal à Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, com o tema “Igreja em Missão”.
É a Eucaristia, como memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, que nos introduz neste dinamismo do Amor Trinitário e da Missão. Pelo Espírito Santo, toda a humanidade participa na Acção de Graças do Filho ao Pai. É desta intimidade e reciprocidade do Amor de Deus, que há-de brotar, numa Europa cada vez mais secularizada, a urgência de evangelizar, testemunhar e viver a missão espiritual e social da Igreja.
Como Bispo do Funchal, tenho comprovado, com profunda alegria, o grande amor e veneração dos nossos cristãos pela Eucaristia. Muitos deles, residentes e emigrantes, além da participação na Missa dominical, procuram as nossas igrejas para adorar o Santíssimo Sacramento. Aliás, diz-nos Santo Agostinho: “Ninguém come esta carne, sem antes a adorar”.
Para aprofundar o mistério do inefável Amor do Pai, revelado na Eucaristia, propõe-se a Igreja Diocesana realizar, no ano de 2013, um Simpósio ou Congresso Eucarístico e solenizar, de forma muito especial, a nossa Festa do Corpo de Deus. Será um momento marcante, assim o desejamos, na caminhada das comemorações dos 500 anos da Diocese.
Jesus regressa às nossas ruas
Após esta celebração, teremos a tradicional procissão do Santíssimo Sacramento que constituirá uma manifestação pública da nossa fé. Que Jesus, ao percorrer as nossas ruas e colocar o Seu olhar sobre aqueles que encontra nestes caminhos ou Lhe dirigem uma prece do silêncio das suas casas ou do sofrimento dos seus corações, a todos conforte na coragem da fé e na alegria da esperança!
A linda ornamentação de todo este espaço celebrativo, que se estende aos artísticos e belos tapetes de flores, que cobrem as ruas da nossa cidade, bem simbolizam o amor e adoração dos fiéis ao Senhor que vai passar.
Como Povo de Deus manifestemos a nossa fé na presença real de Jesus sacramentado, o nosso desejo de comunhão e unidade, empenho pastoral e serviço missionário, de que a nossa Diocese foi e desejamos continue a ser testemunha exemplar.
Com Maria, Senhora do Monte, nossa Padroeira, contemplemos e aprendamos a amar, a celebrar e a adorar o Rosto Eucarístico de Jesus, Dom do Pai para a vida do mundo.
Funchal, 23 de Junho 2011
† António Carrilho, Bispo do Funchal

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